Hoje estava confinada nas minhas coisinhas quando leio uma parte do livro do Robert Musil e me abre uma cratera na frente dos olhos, revelando o infinito espaço que está por trás de todas as coisas aqui da litosfera e todas outras camadas da Terra... ele descreve os sentimentos do Jovem Torless.. e eu me arrepiei toda. É como se ele ligasse a luz e revelasse uma grande pista do mal que atrapalha minha paz.
Agora eu sei.
Mas é incrível que há pouco postei no fotolog a minha sufocante angústia de uma saudade que vinha do nada, sem forma e sem cheiro... Quem se interessa pelo tema saudade, leia.. Já que creio não ter mais grandes sentidos eu mandar pra ninguém importante esse "grande achado" que fiz...
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Pensava que fosse saudade. Mas, na verdade, era algo mais complexo e indefinido. Pois o "objeto" dessa saudade, a imagem, já nem estava contido nela. Refiro-me à imagem plástica de uma pessoa amada, não apenas fruto da memória, mas algo físico, que fala a todos os nossos sentidos e permanece guardado neles, de modo que nada fazemos sem sentir o outro do nosso lado, silencioso e invisível. Em breve, essa recordação se desfez, como uma ressonância que só vibra por algum tempo. Por exemplo, naquele tempo Torless já não conseguia evocar visualmente o que lhe era "querido". Quando tentava, no lugar disso crescia em seu interior uma dor ilimitada, uma saudade que o feria e atraía, pois suas chamas ardentes doíam e o deliciavam ao mesmo tempo. A lembrança tornou-se cada vez mais apenas ocasião de provocar esse sofrimento egoísta, numa espécie de altivez sensual, encerrando-o como no isolamento de uma capela, onde, diante de imagens sagradas, vindo de cem velas e cem olhos de santos, espalha-se o incenso entre a dor dos que ali se flagelam...
Quando, depois, sua "saudade" ficou menos intensa e por fim passou, essa característica revelou-se bem clara. O fim da saudade não trouxe a esperada satisfação; ao contrário, deixou na alma do jovem Torless um grande vazio. E nesse nada, nesse vácuo interior, ele reconheceu que não fora apenas a saudade que passara, mas também algo de positivo, uma força espiritual, que só florescera sob o pretexto da dor.
Agora, porém, acabara, e ele só entendera essa fonte de uma primeira felicidade mais alta quando ela chegara ao fim.
Nessa época também desapareceram de suas cartas os apaixonados sinais da alma que começara a despertar, substituídos por detalhadas descrições da vida...
Torless sentia-se empobrecido e nu, como um arbusto que experimenta o primeiro inverno após uma floração ainda sem frutos.
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Bingo.
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