Conversa (de) Interna(r)

Tuesday, January 31, 2006


Suiciniv?


Assisti agora de noite ao documentário *Vinícius de Moraes* no cinema.
Contei, era eu e mais 8 pessoas no cinema. Sessão das 21h, a 6,00 reais (4,00 pra estudante, mas mestrando não foi considerado estudante... o que eu faço então, senão estudar? Não posso trabalhar porque sou estudante com dedicação exclusiva pela CAPES de papel assinado. Mas não sou considerada estudante... será porque estudo demais?).

Superada essa dúvida relativa ao meu ofício (que eu realmente estou Pagando por isso (troquem o P por C de Pagando.. hehehe))... fui lá... eu e aquela meia dúzia. E ainda acho uma conhecida: minha profe de ginástica! Na verdade eu só faço alongamento com ela, mas já é alguma coisa. hihi. Eu prefiro puxar ferros...
Anyway...


Curti o filme do Vinícius. 100% violão. Deu vontade de ligar pro João. (João era meu profe de violão). Mas acho que agora ele deve estar em Salvador, fazendo mestrado em violão mesmo.

Começou com o Yamandu até. Eu nem sou lá graaaandes fã do Yamandu. Peguei um certo asco, desde a época em que ele tocava de bombachas... violão não combina com bombachas ao meu ver. Combina com bermudas. Nem com terno. Teve uma época na vida do Vinícius que ordens do Itamaraty exigiam que ele tocasse de terno.. hihi. Coitado.

Yet.. tem muito violão no filme. Toda a história da Bosta Nova. Eu curto. Apesar de sempre fazer esse trocadilho, hihi.

Tem Toquinho, tem Tom. O resto eu dispenso.
Essa turma de gente "nhenhenhém" do Rio de Janeiro mais recente, Caetano, Chico, Maria Bethania e o próprio Ministro da Cultura... ah, eu acho eles um bando de malas, parasitas da MPB.


Mas o Vinícius.... pow... típico ser de bem.
Alguém fala no filme que ele não poderia estar vivo na época de hoje, não poderia ser ele mesmo.
Nesse momento, veio em mim a mesma sensação que eu tinha na década de 90. Eu fui lá no raio das passeatas dos cara-pintadas pedir impeachment do Collor. Eu era bem nova e nem sabia pegar ônibus sozinha, mas fui atrás dos meus colegas de colégio. E acreditava que estava aí uma geração pra marcar história. Não passou nem um ano, e aquela modinha grunge e mais não sei o quê... agora esse mundo de guerras religiosas, de terrorismo.. eu acho que tudo está sem graça.
Isso pra não falar do quanto eu pus fé no Lula.. pow, eu chorei... comentei com meus amigos estrangeiros que o Brasil ia mudar, eu realmente acreditava.
Não sei o que tem de errado conosco. Mas acho que é uma onda de erros no mundo todo. Mas acredito que algo vai mudar ainda. Não porque seja otimista, mas mais porque sinto dentro de mim um ciúme da geração que vai por fim fazer história. E não foi a minha. Se é que eu tenho alguma. Não temos nada.

A impressão que tenho é que estamos cada vez mais burros... não aprendemos história, ficamos sempre repetindo a mesma lenga-lenga... quer um troço mais circular e ruminativo que uma cabeça cheia de idéias escrevendo em blog?



...



Ok, peguei pesado. Alguém tem alguma outra sugestão?

hihi




O Vinícius era mais ligado ao afeto que política.. não sei o que ele fazia no Itamaraty.
:P

Eu não sabia que ele era tão libidinoso. Isso é sedutor demais. Não foi à toa que ele teve nove casamentos (na época tinha que casar, né?)...
Agora achei esse texto dele, em que ele equipara uma mulher ao violão. Me senti meio "masculinizada" por curtir violão. Mas meu violão se chama Samuel. Ok. Minha guitarra se chama Rachell. Grandes bostas o sexo dos instrumentos, estou muito bem resolvida, tá? (com minha orientação sexual e com meus instrumentos, sim!).




Uma Mulher Chamada Guitarra
Vinicius de Moraes

UM DIA, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era "a música em forma de mulher". A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d'esprit. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.

0 violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina — viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo — o único que representa a mulher ideal: nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade; e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.

Mas como recusam-se a estabelecer aquela íntima relação que o violão oferece; como negam-se a se deixar cantar, preferindo tornar-se objeto de solos ou partes orquestrais; como respondem mal ao contato dos dedos para se deixar vibrar, em benefício de agentes excitantes como arcos e palhetas, serão sempre preteridas, no final, pelas mulheres-violão, que um homem pode, sempre que quer, ter carinhosamente em seus braços e com ela passar horas de maravilhoso isolamento, sem necessidade, seja de tê-la em posições pouco cristãs, como acontece com os violoncelos, seja de estar obrigatoriamente de pé diante delas, como se dá com os contrabaixos.



Texto extraído do livro "Para Viver um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 14.

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